O instante de um instante perdido
No infinito momentâneo do segundo
Como estamos mudos
Silentes
– ainda pairamos no instante?
Estamos acordados
Decadentes, talvez
Numa cama de gato
Alucinando
Silenciados em nossos corpos
A musica louca ecoa
No vazio do nosso esqueleto
Repouso até não haver
Mais tempo ou vontade
Carregam você para o longe
Num rebanho de visões
Rebeldes
Um flerte com a morte
E com o declínio
O vislumbre de um inferno
De pura satisfação
(sem moral, sem nada)
Nas pétalas de uma flor que pega fogo
A fumaça que paira como
Uma prostituta a dois palmos
Do meu olho
E da língua sem sabor
Decai às profundezas do
Hades em minha garganta
Um corte profundo transversal
Na carne da minha vida
Mas se chove
A chuva eterna
Seu ruído é como
Passos pelo corredor
Como se a tempestade
Caminhasse dentro
(e se a tempestade estivesse por dentro de nós?)
– são como os passos de seu pai
A loucura lateja contra o corpo
No susto do instante
Com espasmos
Aqui nada além da chuva
E de nós
Navegantes e argonautas
Surge a barca cristalina na voz do xamã
Que nos levará a inconsciência
Do outro lado
A face dos rompimentos
Onde pairamos insanos
– eu e você –
Na crista de uma brisa cinzenta
Agarrados à ilusões e sonhos
Adormecemos de tão profunda consciência
Ampla
Há excesso no mundo que
Você prefere não sucumbir
Permanece suspensa do tempo
Das vozes supérfluas em seu ouvido
Vejo sua alma para fora do corpo
Tem a forma de sopro musical
E a tensão de uma corda de violino
A planta que dança ao sol
Entre mantras e citaras de deuses hindus
Dançando em seu círculo de fogo
Da suas flores sacras e os frutos da loucura
À nossas mãos estendidas
E vazias
Comedora de folhas secas
Por que choramos?
Se todas as esperanças foram rasgadas
Para que esperanças
Se estamos tristes, vamos morrer um pouco
Eternamente, suave como um sopro
De uma morte fácil
Eu encontrarei a perfeição, e ela será simples
Num verso curto, talvez num verso curto
Somente o que se tornar puramente essencial
Para que depois
Numa dessas noites
Eu possa te contar como uma grande novidade..................